ERROS DE CONEXÃO: PRÁTICAS SEGURAS E RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO DE SOLUÇÕES POR SONDAS ENTERAIS E CATETERES VASCULARES
Por Marcela Zanatta*
Você já deve ter escutado sobre o caso da paciente que recebeu leite por via intravenosa ou da criança que recebeu vaselina ao invés de soro, com a morte de ambos. Na assistência à saúde, todos os dias são realizadas milhares de conexões em cateteres e sondas para administrar medicamentos, alimentos e soluções. Erros no processo de conexão desses dispositivos terapêuticos podem levar à infusão de soluções em via errada, resultando em eventos adversos graves e até morte.
Em todo o mundo ocorrem notificações de erros de conexão que resultaram em morte ou danos permanentes aos pacientes, aponta o Boletim do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (você pode ler o original aqui).
Entre os inúmeros fatores que contribuem para a ocorrência destes um dos principais fatores apontados é relativo ao design dos produtos, uma vez que os conectores dos cateteres e sondas, utilizados em diferentes vias, para diferentes funções, são muito semelhantes e ainda compatíveis entre si. Isso ocorre porque as seringas, tubos extensores e conectores foram originalmente projetados para cateteres venosos e a ampliação do seu uso para administração de soluções orais e dietas por sonda enteral constitui risco para a segurança do paciente.
Diversas organizações internacionais têm desenvolvido sondas e conectores de cateteres mais seguros, em busca de um padrão que os torne diferentes e incompatíveis. No entanto, não basta que os equipamentos sejam seguros, pois também há a necessidade de revisão dos processos de trabalho e de adoção de condutas preventivas.
Entre as recomendações para práticas seguras no uso de conexões, destacamos:
- Comprar e utilizar sondas gastro/enterais, seringas e cateteres vasculares desenvolvidos para prevenir conexões incorretas
- Promover a capacitação contínua dos profissionais para a utilização correta de sondas, cateteres e seringas
- Não utilizar sistemas de alimentação gastro/enteral que contenham conexões que se encaixam em vias parenterais
- Não utilizar equipamento de extensão intravenosa, torneiras de três vias, adaptadores e extensores de seringa em sistemas de administração por via enteral
- Assegurar boas condições de iluminação no ambiente antes de conectar ou reconectar tubos ou dispositivos.
- Verificar todos os dispositivos desde a sua inserção no corpo do paciente até a conexão final, antes de realizar as reconexões, desconexões ou administração de medicamentos e soluções
- Realizar checagem independente (duplo check) antes de realizar as conexões, reconexões, desconexões ou administração de medicamentos e soluções
- Posicionar os sistemas de infusão em diferentes sentidos, como, por exemplo, os de infusão intravenosa posicionados na porção superior do leito e os de infusão de dietas enterais em direção à porção inferior do leito
- Identificar diferentes sistemas de infusão com cores diferentes
- Rotular os sistemas de alimentação entérica de modo a indicar a via de administração
- Assegurar a identificação correta de seringas, utilizando etiquetas contendo nome da solução e via de administração
- Disponibilizar seringas específicas para diferentes tipos de vias de administração, assegurando que seringas para administrar medicamentos orais líquidos ou sólidos solubilizados sejam incompatíveis com cateteres intravenosos
- Nunca utilizar seringas de uso intravenoso para administrar medicamentos orais ou alimentações gastro/ enterais
- Orientar pacientes e familiares sobre o procedimento de administração de dieta e o risco no processo, e incentivar sua participação na confirmação da via, dos medicamentos e soluções durante a administração
- Orientar pacientes e familiares a não manusear os dispositivos, não realizar conexões ou desconexões e sempre solicitar a presença de um profissional de saúde para verificar qualquer situação
- Notificar os eventos adversos decorrentes de erros de conexão, fortalecendo uma cultura de segurança na organização.
No capítulo da segurança em relação às conexões e com o intuito maior de evitar incidentes indesejáveis é imperativo adotar processo de trabalho bem estabelecidos e que considerem as características de cada insumo utilizado.
Melhorar a segurança na administração de medicamentos dentro dos hospitais é um trabalho essencial e deve ser contínuo. Comece agora!
Treinar os profissionais de modo a estabelecer uma cultura de segurança, ressaltando a importância de medidas para evitar erros de medicação.
Cuidar da segurança na administração de medicamentos através do cuidado com as abreviaturas é possível e factível para todas as unidades de saúde. Comece agora!
*Marcela Zanatta é enfermeira obstetra, coordenadora do GT de Saúde da Mulher do COREN-SP e responsável pela supervisão da UTI de Adultos e Educação Continuada do Caism