Uso de abreviaturas causa erros de medicação

Por Marcela Zanatta *

É sabido que cada paciente internado está sujeito a um erro de medicação por dia nos Estados Unidos da América, sendo que anualmente ocorrem 400 mil eventos adversos relacionados a medicamentos e que poderiam ser evitados, provocando mais de 7.000 mortes.

Apesar dessas estatísticas não estarem disponíveis no Brasil, é relevante trabalhar na  prevenção dos erros de medicação e do risco de dano em função da sua ocorrência. As falhas no processo de utilização de medicamentos são consideradas importantes fatores contribuintes para a redução da segurança do paciente.

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Uma prescrição de “5U” de insulina foi erroneamente interpretada como 50 unidades, causando uma parada cardiorrespiratória e óbito do paciente, conta o Boletim do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (você pode ver aqui).

As abreviaturas podem ser utilizadas para representar o nome do medicamento, a dose, a via ou a frequência de administração. Apesar de simplificarem a redação, podem causar dúvidas, interpretações equivocadas e os erros. Estudos descritos na publicação revelam terem encontrado abreviações em até 80% das prescrições avaliadas e cerca de 33,3 por prescrição.

Não apenas as abreviações, mas a utilização de símbolos, números com vírgula, expressões de doses e uso de papel pautado podem gerar erros na interpretação das prescrições. Por exemplo, os símbolos maior (>) e menor (<) podem ser confundidos com letras e números. A utilização da vírgula sem o zero antes (,1 mg ao invés de 0,1mg) ou o uso de zero após a vírgula para expressar números inteiros (5,0 mg ao invés de 5 mg podem ser confundidos com 50 mg) podem ser associados a erros de dose de medicação.

quimioterapia

Assim, entre as ações para a prevenção de erros associados às abreviaturas são simples e efetivas. O ponto essencial é a educação em serviço e a divulgação de uma lista contendo abreviaturas, siglas e símbolos que nunca devem ser utilizados, como fórmulas químicas, abreviação de nomes de medicamentos, “unidades” e “unidades internacionais” (U e UI, respectivamente).

Para a sua unidade de saúde, utilize os seguintes norteadores para evitar os erros de medicação decorrentes de abreviações:

 

 

  • Evitar o uso de abreviaturas, siglas, símbolos, expressões de dose confusas ou qualquer outra forma de escrita abreviada em prescrições (grafadas, digitadas, informatizadas ou verbais), bulas, rótulos, embalagens de medicamentos e etiquetas de identificação dos locais onde eles são armazenados e em outros documentos utilizados por profissionais de saúde no sistema de utilização de medicamentos.

  • Elaborar uma lista de abreviaturas, siglas e símbolos perigosos cuja utilização é proibida devido ao risco de erro de medicação e com as respectivas explicações sobre o motivo para o não uso.
  • Divulgar amplamente na instituição a lista de abreviaturas proibidas, em formatos de fácil acesso, nos diferentes setores onde se realizam as prescrições, a distribuição e o preparo dos medicamentos para administração.
  • Farmacêuticos e atendentes de farmácia: recusar prescrições ilegíveis ou contendo abreviaturas e siglas proibidas. 
  • Realizar verificações ou auditorias regulares para certificar-se de que o uso de abreviaturas e siglas foi eliminado
  • Orientar o paciente e a equipe de enfermagem e farmácia a nunca tentar deduzir o significado de qualquer abreviatura presente em uma prescrição, e sempre perguntar ao prescritor o significado de cada uma. 
  • Implantar a prescrição eletrônica, configurando o software de prescrição de modo que a utilização de abreviaturas não seja permitida.
  • Usar sempre papel sem pauta para evitar erros de interpretação ocasionados pelo encontro das linhas com letras, números, vírgulas e pontos usados na prescrição.
  • ABOLIR imediata e definitivamente: nomes de medicamentos abreviados ou fórmulas químicas para designá-los; doses expressas sem a utilização do zero antes da casa decimal, à esquerda do número (exemplo: nunca escrever “,5 miligramas”; escrever sempre “0,5 miligramas”); doses expressas utilizando o zero após a casa decimal, à direita do número quando este for inteiro (exemplo: nunca escrever “5,0 mililitros”; escrever sempre “5 mililitros”); abreviaturas U (unidades) ou UI (unidades internacionais) devido ao risco de equívoco de interpretação (confusão com o numeral “0”) e consequente multiplicação da dose por dez.
  • Treinar os profissionais de modo a estabelecer uma cultura de segurança, ressaltando a importância de medidas para evitar erros de medicação.

Cuidar da segurança na administração de medicamentos através do cuidado com as abreviaturas é possível e factível para todas as unidades de saúde. Comece agora! 

 

*Marcela Zanatta é enfermeira obstetra, coordenadora do GT de Saúde da Mulher do COREN-SP e responsável pela supervisão da UTI de Adultos e Educação Continuada do Caism

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