UTI ADULTO DO CAISM COMPLETA 2 ANOS SEM INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA

A infecção primária da corrente sanguínea (IPCS) é a principal complicação relacionada ao cateter venoso central (CVC) e reflete em desfechos desfavoráveis em saúde e uma ameaça à segurança do paciente.

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Vanessa Aparecida Vilas-Boas *

Carolina Carvalho Ribeiro do Valle **

Segundo alguns autores, para cada dia de permanência a probabilidade de infecção aumenta em 13%1. Além disso, tanto a inserção quanto a manipulação do CVC, podem contribuir para um aumento na colonização microbiana e infecção, caso não sejam adotadas medidas de barreira, higienização das mãos, antissepsia da pele do paciente e desinfecção do hub em todas as injeções. Em nosso país, um estudo realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Adultos reportou que de 33 pacientes internados, 18 foram diagnosticados com IPCS relacionada ao cateter e que destes, 04 (20%) evoluíram a óbito2. Outro estudo encontrou taxa de mortalidade de 40% entre pacientes com IPCS3. Dados reportados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)4 sugerem ainda um aumento na presença de bactérias multirresistentes como agentes causadores da infecção, aumento no tempo de internação hospitalar contribuindo para falta de leitos e perda de recursos com provável impacto econômico.

A contaminação do CVC pode ocorrer por quatro caminhos5: migração dos microrganismos da pele no sítio de inserção ao longo da superfície do cateter; contaminação do hub do cateter pela sua manipulação; contaminação hematogênica a partir de outro foco infeccioso (translocação); contaminação da solução de infusão (figura 1). Outro aspecto importante na patogênese da infecção da corrente sanguínea é a formação de biofilme, que pode estar presente tanto na parte externa quanto no lúmen do cateter4 .

cateter

 

Figura 1: Fisiopatogenia da infecção da corrente sanguínea.

Fonte: Anvisa (2017)4 apud Maki (1992) e Safdar et al (2004).

São muitos os desafios para a prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde, contudo, no caso da IPCS cerca de 70% dos casos são preveníveis4. As medidas preventivas descritas pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC)5, e adotadas pela Anvisa4 e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac", do Estado de São Paulo (CVE/SP) devem ser incluídas na prática clínica em forma de pacote ou conjunto de intervenções, denominados bundles. Os bundles são essenciais para a assistência segura e para a redução das taxas de infecção. Para a prevenção de IPCS, destacam-se: higiene das mãos, uso da barreira máxima de precaução e assepsia da pele com clorexidina alcóolica para inserção do CVC para inserção, seleção do sítio de inserção, avaliação diária da necessidade de permanência do cateter e remoção imediata daqueles cateteres desnecessários5. O uso de listas de verificação ou checklists é um recurso que auxilia no cumprimento dos bundles6 e, em 2018, a adesão ao checklist de inserção passou a ser uma exigência a ser reportada para o CVE/SP, como indicador de processo. Aliada a essas medidas, ressalta-se a capacitação dos profissionais de saúde para adoção de boas práticas durante a inserção e manutenção dos cateteres, vigilância epidemiológica, avaliação e feedback dos resultados4,6.

EXPERIÊNCIA DA UTI ADULTO DO CAISM

Os gráficos abaixo mostram a comparação dos dados semestrais da UTI Adulto do Caism com os dados divulgados pelo CVE, referentes a 2017, utilizando as notificações feitas pelos hospitais do Estado de São Paulo.

O gráfico 1 apresenta a taxa de utilização de CVC que se mantém estável entre os percentis 50 e 75, abaixo de 60%, nos últimos 3 anos. A taxa de utilização indica o grau de exposição ao risco de infecção.

 

cvc 1

 

Gráfico 1: Taxa de utilização de cateter venoso central da UTI Adulto do Caism, no período de 2006 a 2018, comparado a dados epidemiológicos do CVE/SP para hospitais de ensino do Estado de São Paulo, 2017. Caism/Unicamp, 2018.

Com relação às Infecções primárias de corrente sanguínea relacionadas aos cateteres venosos centrais, confirmadas laboratorialmente (IPCSL), observa-se no gráfico 2, o desempenho da densidade de incidência de IPCSL nos últimos 12 anos, com queda de acima do percentil 90 para próximo do percentil 25, em 2013, após implantação do checklist de inserção e manutenção de cateteres venosos centrais em 2012, além do reforço dos bundles de prevenção desta infecção. Desde setembro de 2016, não houve mais casos completando, atualmente, 02 anos sem IPCSL.

cvc 2

Gráfico 2: Densidade de incidência de IPCSL da UTI Adulto do Caism, no período de 2006 a 2018 (1º semestre) , comparado a dados epidemiológicos do CVE/SP para hospitais de ensino do Estado de São Paulo, 2017. Caism/Unicamp, 2018.

Este resultado é excelente e fruto do trabalho em conjunto de todas as equipes. É mister ressaltar a importância do checklist de inserção e os cuidados com a manutenção. 

REFERÊNCIAS

  1. Hajjej Z, Nasri M, Sellami W, Gharsallah H, Labben I, Ferjani M. Incidence, risk factors and microbiology of central vascular cateter-related bloodstream infection in an intensive care unit. J Infect Chemother, 2014; 20(3):163-8.
  2. Lopes APAT, Oliveira SLCB, Sarat CNF. Infecção relacionada ao cateter venoso central em unidades de terapia intensiva. Ensaio e Ciência, 2012; 16(1): 25-41.
  3. Marra AR, Camargo LF, Pignatari AC, et al Brazilian SCOPE Study Group Nosocomial bloodstream infections in Brazilian hospitals: analysis of 2,563 cases from a prospective nationwide surveillance study. J Clin Microbiol, 2011; 49(5): 1866-71.
  4. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. Brasília: Anvisa, 2017.
  5. O’Grady NP, Alexander M, Burns LA, Dellinger P, Garland J, Heard SO et al. Guidelines for the prevention of intravascular catheter-related infections, 2011. Washington: CDC, 2011.
  6. Perin DC, Erdmann AL, Higashi GDC, Sasso GTM. Evidence-based measures to prevent central line-associated bloodstream infections: a systematic review. Rev Latino-Am. Enfermagem, 2016; 24:e2787. Acesso em Out 16 2018; Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v24/pt_0104-1169-rlae-24-02787.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1233.2787.

 *Vanessa Aparecidas Vilas-Boas é Professor Doutor da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Caism, Unicamp.

** Carolina Carvalho Ribeiro do Valle é médica infectologista e presidente da CCIH do Caism, Unicamp. 

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