INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM ADULTOS – COMO PREVENIR?

O sistema urinário é composto pelos rins, ureteres, bexiga e uretra. É estéril em todo seu trajeto, exceto na porção do óstio externo da uretra, a qual é colonizada por microrganismos presentes na região do períneo. A depender da situação, estes microrganismos, em geral bactérias, podem ascender pela uretra invadindo os órgãos desencadeando a infecção do trato urinário (ITU). 

Por Vanessa Aparecida Vilas-Boas *

nfeccao urinaria

 

Deve-se ter em mente que, para ocorrer uma infecção, é necessária a combinação de três elementos: o agente causador, o ambiente propício e o hospedeiro susceptível – tríade epidemiológica. Em decorrência da anatomia, a ITU é mais comum em mulheres, com incidência de até 80%. A uretra feminina é um tubo muscular de cerca de 4 cm de comprimento e 6 cm de diâmetro (figura 1a). Sua proximidade com o introito vaginal e ânus, e sua curta extensão, propiciam a infecção. Durante a gravidez, a ITU tende a ocorrer com maior frequência devido a alterações na imunidade e o aumento das proteínas na urina, tornando um meio rico para a multiplicação das bactérias. A uretra masculina possui em torno de 18 a 20 cm, também com 6 cm de diâmetro, e atravessa a próstata (figura 1b). Devido ao maior comprimento da uretra, maior distância da região anal e ação antibacteriana do líquido prostático, as bactérias apresentam maior dificuldade para migração. Em ambos os casos, a presença de dispositivos uretrais como cateteres vesicais, duplo J ou outros aumentam o risco de infecção. Enterobactérias, em especial Escherichia coli, são os agentes mais comuns, tornando-se patológicos quando deslocados do seu habitat natural.

trato urinário masc fem

Os principais sintomas da ITU são: disúria (dor e ardência ao urinar, sensação de peso na bexiga); aumento da frequência de micção associado a pouco volume urinário, devido à irritação da mucosa; odor; urgência miccional e incontinência urinária. Febre, hematúria e dor lombar também podem ocorrer a depender da gravidade da infecção.

 

DICAS PARA PREVENIR ITU

 

ingestão de águaAs dicas a seguir são simples, porém acrescentadas ao nosso cotidiano podem prevenir a infecção:

  1. Beba água: recomenda-se, para aqueles que não possuem restrição hídrica, a ingestão de 2 a 4 litros de água durante o dia, tanto na forma pura quanto presente em alimentos e sucos. A água auxilia o funcionamento do trato urinário desde o processo de filtração do sangue pelo rim, até a diluição da urina, deixando-a menos concentrada. Além disso, a ingestão de água aumenta o volume urinário e a micção irá “lavar” a uretra com mais frequência expulsando microrganismos em migração. Esta é a principal condição de defesa do trato urinário contra a invasão de agentes: o fluxo livre de urina. Seguindo a mesma lógica, evite segurar a urina por muito tempo, pois a urina parada facilita a proliferação de bactérias e, também, a formação de cálculos.
  2. Higienize suas mãos: as mãos transportam microrganismos de um local a outro. Sempre higienize suas mãos na manipulação do órgão e após o contato com secreções.
  3. Realize a higiene íntima corretamente: ao realizar a limpeza com papel higiênico após as eliminações, faça-a no sentido anteroposterior, ou seja, da uretra para o ânus. Caso contrário, você estará trazendo os microrganismos para o óstio externo da uretra aumentando a colonização no local. Nunca utilize o mesmo papel duas vezes seguidas, se necessário use um novo pedaço. Evite higiene íntima excessiva, nosso organismo convive em harmonia com a microbiota natural de cada região. Os microrganismos são necessários ao nosso corpo, pois produzem enzimas, degradam alimentos, controlam o pH e mantém o equilíbrio entre si. A higiene com muita frequência, associada a produtos antissépticos, provoca desequilíbrio na microbiota local, favorecendo a invasão por microrganismos oportunistas. Portanto, dê preferência para água e sabonete neutro. Perfumes, desodorantes, talcos ou outros produtos químicos não devem ser aplicados na região genital, pois podem provocar irritação, aumentando a colonização local.
  4. Dê preferência ao banho no chuveiro: tomar banho na banheira pode ser bonito, gostoso e relaxante, contudo a água quentinha torna-se rapidamente povoada por bactérias. Além disso, se a limpeza e desinfecção da banheira não forem adequadas, pode haver a presença de fungos. Da mesma forma, evite ducha vaginal.
  5. Troque o absorvente íntimo com frequência: o sangue é um meio de cultura rico para os microrganismos e a presença de umidade facilita sua proliferação e, consequentemente, aumenta o risco de infecção. O ideal é realizar a troca a cada 4 horas e sempre que necessário.
  6. Cuide-se nas relações sexuais: realize a higiene íntima logo antes do ato sexual sempre que possível; esvazie a bexiga após a relação, o jato urinário ajuda a expelir os microrganismos que, porventura, foram carreadas para a uretra; evite sexo anal sem proteção.
  7. Dê preferência para roupas com tecido que facilitam a transpiração: roupas de algodão ou tecidos leves favorecem a circulação de ar e reduzem a umidade local. Roupas apertadas também são contraindicadas, pois dificultam a circulação de ar e aumentam a temperatura da região.
  8. Evite o uso indiscriminado de antibióticos: o uso indiscriminado de antibióticos altera a composição natural da microbiota e induz à criação de cepas resistentes.

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*Vanessa Aparecidas Vilas-Boas é Professor Doutor da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Caism, Unicamp.

REFERÊNCIAS

LACERDA, W. C., VALE, J. S., LACERDA, W. C., CARDOSO, J. L. M. S. Infecção urinária em mulheres: revisão da literatura. Saúde em Foco, n. 7, p. 282-295, 2015. Disponível em: <http://www.unifia.edu.br/revista_eletronica/revistas/saude_foco/artigos/ano2015/artigo_infeccao.pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.

NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH – NIH. NATIONAL INSTITUTE OF DIABETES AND DIGESTIVE AND KIDNEY DISEASES – NIDDK. Bladder infection (urinary tract infection – UTI) in adults. 2017. Disponível em: <https://www.niddk.nih.gov/health-information/urologic-diseases/bladder-infection-uti-in-adults/all-content>. Acesso em: 20 set. 2018.

RORIZ-FILHO, J.; VILAR, F.; MOTA, L.; LEAL, C.; PISI, P. Infecção do trato urinário. Medicina, Ribeirão Preto [Online], n. 43, v. 2, p. 118-125, 2010. Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v43i2p118-125>. Acesso em: 19 set. 2018.

SEPSIS ALLIANCE. Sepsis and urinary tract infections. 2017. Disponível em: <https://www.sepsis.org/sepsis-and/urinary-tract-infections/>. Acesso em: 20 set. 2018.

 

 

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