Uso de cateteres na prática diária da enfermagem
Entre as inúmeras práticas diárias de equipe de enfermagem encontramos a inserção, utilização e manutenção de cateteres. Estávamos acostumados a encarar o uso dos dispositivos intravenosos isoladamente, sem dar muita importância ao planejamento do tratamento do paciente através do uso dos cateteres. Atualmente tratamos o assunto como terapia infusional e é de extrema importância que o enfermeiro aprenda a utilizar o raciocínio clínico para selecionar os dispositivos ideais e as melhores vias para garantir qualidade e segurança, sem risco de eventos, principalmente aqueles relacionados à infecção da corrente sanguínea.
As infecções de corrente sanguínea relacionadas a cateteres centrais (ICSRC) tem mortalidade entre 10 até 40%, além de prolongar o tempo de internação e poder gerar um custo adicional de até 90 mil dólares. É importante lembrarmos que o acesso intravenoso é responsável por cerca de 1,9% de todas as infecções adquiridas no hospital e que a administração intravenosa de fluidos estabelece uma conexão do meio externo com a corrente sanguínea ultrapassando a barreira de proteção principal que é a pele.
A infecção pode ser decorrente de diferentes locais de contaminação. inicialmente, a colonização extraluminal, que são as bactérias da pele que formam biofilme ao redor do dispositivo é a principal causa. Com o passar dos dias, aumenta o número de manipulações do hub e, especialmente no caso dos cateteres de longa permanência, a fonte primordial de infecção é a colonização intraluminal. Ainda, pode ocorrer a infusão de soluções contaminadas devido à práticas inadequadas e falha no preparo das soluções. A colonização da ponta do dispositivo por disseminação hematogênica com uma ICSRC subsequente é rara, mas pode ocorrer.
Fonte: Brasil, 2017.
Sobre o material do cateter
O material utilizado na composição do cateter também tem influência sobre a ocorrência e a gravidade das complicações. Os materiais mais comumente utilizados são o politetrafluoretileno (PTFE), poliuretano, silicone, poliamida e poliéster, sendo que os cateteres mais flexíveis e resistentes à dobras são os menos associados à eventos infecciosos.
Como prevenir?
Claro que é possível prevenir as infecções decorrentes do uso de cateteres. As principais recomendações são:
- Realizar a higienização das mãos antes e após a inserção dos cateteres e para qualquer tipo de manipulação do dispositivo.
- Selecionar adequadamente o tipo de cateter e o sítio de inserção, considerando o objetivo da terapia infusional, a viscosidade do fluido, seus componentes e as condições do acesso venoso.
- Técnica de punção e preparo adequado da pele, incluindo a limitação do número de punções para duas por profissional.
- Realizar a estabilização adequada do cateter, com técnica asséptica e cobertura estéril.
- A cobertura selecionada deve proteger o sítio de punção e fixar o dispositivo no local para prevenir a movimentação e o dano ao vaso. Não deve ser trocada em intervalos pré-estabelecidos, apenas quando houver necessidade.
- Realizar o flushing (com solução fisiológica a 0,9% estéril) pulsátil ou turbilhonado antes e após a administração das drogas e entre medicamentos diferentes.
Essas são alguma recomendações básicas para evitar as infecções decorrentes do uso de cateteres. É importante lembrar que a mudança de comportamento é o maior desafio educacional e ela é primordial para o sucesso no uso de cateteres no nosso hospital!
A referência principal utilizada aqui foi a publicação da Anvisa, Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde de 2017.
Saiba mais na vídeo-aula, que será publicada aqui em 21/09/18!
Referência bibliográfica
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde. Brasília: Anvisa, 2017.
*Marcela Zanatta é enfermeira, especialista em ginecologia e obstetrícia e enfermeira da educação continuada do Hospital da Mulher da Unicamp (Caism)